quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Atravessada pela bexiga!

Da primeira vez ela aparece atravessando a rua.
No cruzamento da Consolação com a Avenida São Luiz.
Se fosse bicho ou gente corria o risco de ser atropelada, porém com sua leveza,
deixou-se levar pela brisa e atravessou o cruzamento com delicadeza, em plena hora do almoço no agito desta metrópole paulistana.
Segue o seu destino, vem pela guia da rua, parece saber para onde vai e o que faz, penso em salvá-la, mas que pretensão... Consolação! Ela já havia sido salva e me salvara também.
Deslocou meu momento, meu olhar e meu dia.


Da outra vez ela aparece, sendo preenchida de água, faz meu corpo se expandir para cabê-la, quer tornar-se um novo órgão, precisamos abrir espaço, Eu – sujeito de ação e meus órgãos que não param de pulsar.
A vida é mesmo pulsação, pulsa-ação, pulsa ação.
Movimento!
Depois, vem leve preenchida de ar, meu ar.
Faz-me dançar, dançar – DAN-ÇAR, tem AR.
Quero que pare em minhas mãos, mas não sou EU – sujeito de ação – que a faço parar, mas ela, sim ela me faz parar... PAR–AR, fico leve e preenchida de ar como ela.
Torno-me bexiga,
Sim Bexiga!
Cheia de ar e leve, só assim consigo me comunicar – AR (novamente) COMUM AR com ela, ao tornar-me parte dela, ao experiment-AR ser bexiga.

Como é difícil ser bexiga!
Outro dia tentei – fiquei parada, quietinha, mas o que viram foi pedra, não bexiga.
Vejo como é difícil esvaziar, tirar o ar de dentro de mim, esvaziAR, parAR, ficAR.
Ficar com ela, na companhia de seus movimentos e imagens.

Precisamos nos despedir - despir (quem sabe...) as imagens ficam na memória, nas muitas memórias que nos atravessam.
Assim fui atravessada pela bexiga.

Wládia Beatriz



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